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Prédio-pipa

Gabriel Kolyniak

Construir o edifício com madeira fraca,

empilhada. Empinadas por barbantes,

as tábuas tortas flutuassem,

o prédio se ergueria, triunfante.



Os carpinteiros iluminam

o céu amarrotado,

guardam as carnes

que perderam



durante a construção, abandonada

a um senhor intransigente,

que emaranhou farpas ao orquidário,

que fez do alicerce um coração,



pronto, concluído, o edifício seria

um repouso à inundação.

Ele abandonou a construção

às mãos de mais ausentes pedreiros,



empreiteiros da arquitetura da rendição;

vencem a fratura, fazem atadura

no ferido, no de todos, o coração;

é esse o inquieto centro,



cuidar das dores do peito é de todos a função,

mas também empinar e habitar o prédio-pipa,

erguendo cada ripa, vigiando no céu

a incessante arrebentação.